sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CLAUDIA LACERDA


Minha mãe tecia, minha avó tecia e eu também teço... O mais engraçado é que ninguém ensinou para ninguém, cada uma teve um estilo completamente diferente da outra. O que foi passado para a geração seguinte foi a mensagem de quebrar a cabeça sozinha e descobrir um caminho no tecer. Minha mãe começou a história aprendendo a tecer em Berkeley e trazendo um Leclerc canadense de quatro quadros para o Brasil em 1971.
Em 1986 montou uma tecelagem com mulheres da Rocinha -depois elas se organizaram com uma ONG. Na época não existiam lojas especializadas em teares de quatro quadros anunciadas em catálogos telefônicos, não tinha a moleza da internet, toca a minha mãe correr pra cá e pra lá para conseguir as peças para fazer os teares, fundidor, marceneiro,São Paulo para comprar liços e pentes... Veio para Petrópolis em 1987 morar com a minha avó e montou uma tecelagem com Pascale Charlier, belga recém saída da ONG Fé e Alegria. Se especializaram em tecidos: cortinas, almofadas,colchas mas logo descobriram o óbvio; não podiam concorrer com as grandes tecelagens de Minas Gerais e Nordeste. Eles vendiam a quilo e elas a metro. Passaram para os Florais de Bach e isso já foi outra história.
Minha avó se especializou em pequenos quadros de tear de prego feitos com tela de silk, meio que tecidos, meio que bordados, gostava de inventar paisagens...
Eu, aos dezessete anos descobri um livro sensacional:"Métier à Tisser Tunisiein" de Françoise Delaporte, ed. Dessain Et Tolra, 1981. Ele ensina com fotos a técnica do Kilim passo à passo. Fiquei apaixonada e desatei a fazer tapetes desenhados com motivos geométricos.
Em 1990 fui morar em Itapecirica da Serra, em São Paulo para junto com uma sócia fazer uma tecelagem em um local isento de impostos. Foi uma boa experiência, porque se de um lado eu percebi que não tinha talento algum para empresária por outro eu vi que tinha um prazer muito grande em ensinar para a garotada que trabalhava para a gente.
Voltei para Petrópolis, voltei para os estudos, e fui fazer Licenciatura em Educação Artística na UFRJ. Em 1996 comecei a primeira turma de tecelagem aqui em Petrópolis. Ficamos juntas até 1999 quando mudei para o Rio.
Retomamos então em 2006 quando de volta à Petrópolis pude recuperar os teares que quase se perderam na diáspora. Da primeira turma ficaram Margarida Ruggieri, Solange Motta e Letícia Taquechel. Regina D'Olne, Ivette Barsante, Júlia Eleana e Begoña Javares foram um complemento maravilhoso para a alquimia completa deste grupo, que cresceu, amadureceu, tomou corpo e começou a andar pelas próprias pernas! Acho maravilhoso, cresci e cresço muito com esta experiência, desta reunião de mulheres que se tornam sábias por saberem compartilhar os seus medos, sonhos,vivências,fantasias e esperanças. O mais importante de tudo: o encontro. Como Penélopes entretecendo o tempo, tecendo e destecendo histórias.

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